Opinião – A “jabutia” de Lula – por Jénerson Alves*

Mário Flávio - 15.02.2025 às 15:21h

Não é de hoje que os discursos de Lula geram comentários por parte da população. Em um vídeo recentemente publicado na internet, que também repercutiu no Blog do Mário Flávio, o presidente afirma que agora os jabutis do Palácio do Planalto estão muito felizes com as “jabutias” que foram adquiridas pela presidência.

No entanto, os dicionários registram que a fêmea do jabuti é chamada de “jabota”. Essa construção ocorre porque, em língua portuguesa, a formação do feminino se dá por meio de regras complexas. Embora muitas vezes o feminino seja formado mediante a simples troca (ou acréscimo) da terminação masculina pela feminina, como em “menino – menina”, “juiz – juíza” e “deputado – deputada”, casos há em que a palavra é modificada no radical e/ou na desinência. A mudança de “jabuti” para “jabota” é um exemplo disso. Fenômeno semelhante acontece em “príncipe – princesa”, “frade – freira” e “pardal – pardoca”. Ademais, por vezes, as palavras são completamente modificadas, como em “bode – cabra”, “cavalo – égua” e “carneiro – ovelha”.

É curioso perceber que o sufixo nominal -ota aparece sobretudo na flexão gradual, vertendo palavras para o grau diminutivo, a exemplo de “bolota” e “aldeota”. Há, ainda, situações em que esse sufixo representa linguagem afetiva, a exemplo de vocábulos como “filhota” e “meninota”. Já em outros momentos, o tom é depreciativo, como em “velhota”.

Convém salientar que a palavra “jabutia” realmente existe e é registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), mas trata-se de um vocábulo pertencente ao campo lexical da botânica, pois se refere a uma variedade de ipê, significado claramente diverso ao que o petista empregou em seu discurso.

Conquanto hoje predominem um nefasto pensamento de ojeriza à gramática e um estímulo exacerbado ao emprego da variante informal do idioma em todos os aspectos da vida social, é necessário ressaltar a importância do cultivo da língua pátria. O governo deve patrocinar a elevação do idioma, não seu declínio. Ainda ecoam as palavras do eminente filólogo Napoleão Mendes de Almeida: “Conhecer a língua portuguesa não é privilégio de gramáticos, senão dever do brasileiro que preza sua nacionalidade”.

*Jénerson Alves é jornalista, professor de Língua Portuguesa e poeta.