Criou-se o hábito do Brasil de avaliar as gestões ao longo dos mandatos, procurando analisar se as promessas de campanhas estão sendo cumpridas, suas relações tanto com a base aliada e com os demais poderes, principalmente o legislativo e também a percepção que a sociedade tem dos governos, os famosos índices de aprovação popular. Nesse contexto o primeiro escrutínio a que são submetidos os membros do executivo, em qualquer nível, é a avaliação dos 100 dias. Obviamente que ninguém em sã consciência irá querer que todos os pontos contemplados durante a campanha estejam já materializados; mas busca-se principalmente observar o ritmo da administração em por em andamento o seu plano de governo, que articulações estão sendo feitas, a seleção do secretariado, os primeiros meses e ações do executivo.
Ao iniciar esse mandato Queiroz tem inúmeros desafios a vencer para atender as expectativas criadas durante a campanha, porém nessa trajetória o prefeito não terá mais a condescendência da população com os possíveis problemas em atendar as demandas sociais. Na gestão passada foram amplamente usados como álibis, para tudo que dava errado, para a paralisia do executivo, o discurso da herança maldita e a surpresa com a redução dos repasses municipais em virtude da crise financeira mundial, esses cenários justificavam tudo. Dessa vez o cenário é outro, pois não será possível debitar na conta da oposição os entraves ou a paralisia na administração, já que é um governo reeleito e que conhecia a real situação econômica do município ao fazer as promessas de campanha.
Sabendo dessa nova realidade em seu discurso de posse Queiroz sinalizou a preocupação em não repetir os erros que desgastaram o seu governo, elencando como metas a serem atingidas: a eficiência administrativa, a sensibilidade com o social, transparência e a construção de um governo plural e democrático. Com essa abordagem ele procurou atacar as principais críticas que marcaram a sua administração e que provocaram a baixa aprovação popular até as vésperas da campanha eleitoral.
Nesse instante quando se completam os 100 dias de governo e a sua quarta gestão, que passos significativos foram dados para tornar realidade o discurso da posse? O quanto se avançou, o que não andou e ocorreram retrocessos? Podemos colocar na categoria de avanços a significativa melhoria na área de comunicação da prefeitura, que diariamente inunda a mídia local com as pautas do executivo e cria para a sociedade a noção de dinamismo, de funcionamento da máquina. Também merece menção a montagem de uma base legislativa coesa e disciplinada, para não dizer dócil, evitando assim a possibilidade de fogo amigo, como na gestão anterior e que gerou inúmeros desgastes e conflitos. E por último a seleção de Caruaru pelo Governo Federal para receber o BRT, que irá melhorar uma das áreas nevrálgicas da cidade, o trânsito.
Na categoria das expectativas podemos incluir a conclusão do processo de estruturação e o pleno funcionamento da Secretaria de Participação Social, que terá a responsabilidade de implantar o orçamento participativo e ser o canal direto entre a sociedade e a prefeitura. Pois só com ela atuando teremos condições de avaliar a quão democrática serão a quarta administração de Queiroz, se será efetiva ou para inglês ver, faz de conta.
Mas, também nesse curto intervalo de tempo a gestão Queiroz também está sendo pródiga em produzir crises nesses curtos 100 dias. Teve início com a polêmica do aumento salarial do executivo, inicialmente defendido e depois renegado e vetado ante o clamor popular. Continuou com a ingerência explícita na eleição da mesa diretora da Câmara Municipal, com a subjugação do legislativo pelo executivo, demonstrando claramente a continuidade de práticas nem tão modernas e transparentes assim.
E foi ampliada com a eclosão antecipada de focos de insatisfações em vários segmentos da base aliada, tendo vários partidos e membros da frente popular, expondo na mídia as insatisfações com a predominância de alguns aliados na máquina. Esses membros descontentes, entre eles parceiros históricos, que estão saindo e atirando a esmo e divulgando as entranhas das negociações de bastidores, mostram desde já o enorme desafio que será administrar uma coligação tão ampla e diversa e mantê-la pacificada pelos próximos quatro anos; afinal os ruídos já extravasam dos gabinetes e chegam às ruas e é possível que muitos desses insatisfeitos vitaminem os quadros da oposição municipal.
Outro grande desafio da gestão municipal terá pela frente será resolver os impasses existentes com os servidores públicos, já que pipocam nas redes sociais e nos meios de comunicação focos de insatisfação explícitos e críticas em diversas as áreas, entre elas: a saúde, a DESTRA e principalmente na Educação. A transparência prometida na posse foi relegada, com um PCC negociado nas sombras, sem discussão com a sociedade e com a categoria e sem a comprovação da incapacidade do município em arcar com o salário dos professores, algo que só seria conseguido com a abertura das contas da educação.
Esperamos que Queiroz nesse início de mandato promova logo as mudanças necessárias para que se atinjam as metas que ele estipulou na posse. Afinal se forem repetidos os passos da gestão anterior esperando o ano eleitoral para realizar alguns ajustes e investir maciçamente em propaganda para assim reverter a avaliação negativa é querer abusar da sorte, desejando que um raio caia duas vezes no mesmo lugar.
*Mário Benning é analista político e professor no IFPE