Opinião – O Privado, o capitalismo e seus paradigmas… – por Daniel Finizola

Mário Flávio - 12.11.2012 às 19:25h

​O que é público e o que é privado? Com a Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo como modo de produção dominante, o mundo passou e sentir melhor o que essas palavram significam e quais as consequências da ação do privado e do público para sociedade contemporânea. A natureza do privado excita nas pessoas a segregação, o individualismo, a arrogância, que marca o comportamento do homem moderno o qual faz do consumo desenfreado e irracional a sua religião.

A espetacularização da sociedade mexe com o imaginário coletivo, aguça o consumo e o desejo, construindo e impondo valores que resignificam a natureza humana. Vivemos cada vez mais a globalização da cultura do consumo, criada e imposta para atender demandas ambiciosas, articuladas por uma pequena minoria no mundo. O Estado Liberal funciona como mediador dessa relação de consumo. Basta analisar que o fetiche capitalista está presente na política pública que estimula a compra desenfreada de automóveis em detrimento do investimento em transporte público.

Tudo justificado pela necessidade de manter empregos e o desenvolvimento econômico a todo vapor. Será que esse é o caminho? Ou nosso estado democrático é refém de diversos interesses privados que se articulam no sistema financeiro e nos meios de comunicação de lógica massiva e vertical? Analisaram, em tempos clássicos, os primeiros estudiosos da sociedade, que faz parte da essência do homem a socialização de ideias, olhares e experiências. É fato e notório que isso torna o indivíduo mais rico culturalmente, mais tolerante, experiente e cheio de novos aprendizados.

Mas, como manter esse sociabilidade frente ao culto do deus privado, individualista e segregador? Ele que todos os dias reza sua missa consumista nos meios de comunicação de massa. Um deus que tem como assessores e pastores Gugu Liberato, Silvio Santos, Xuxa, Faustão e Luciano Huck não pode estar mal. O deus privado é a peça fundamental no mecanismo do sistema capitalismo, que sempre criou artifícios para desarticular as construções coletivas.

Na maioria das vezes, quando a classe média adquire um objeto de um valor relativamente alto, exemplo: um automóvel, junto com essa aquisição também é passado o valor de sacrifício, luta e meritocracia pela conquista. Esses valores potencializam a noção de privado e individualismo, logo, passamos a ver o objeto e relacioná-lo com todo o sacrifício que tivemos para obtê-lo, amplificando a ideia de posse, de privado.

Não estou aqui para questionar o merecimento ou não pelas conquistas de cada um, mas para incitar e questionar a que fim se destinam nossas conquistas e quais os reflexos sociais que isso tem no nosso convívio com o outro e com o mundo de uma forma geral. O Capitalismo é um romântico sedutor na sociedade contemporânea, afinal de contas, ele fala aos corações sedentos e viciados de desejos, cada vez mais carentes de pessoas – consequências da ação do deus privado. É mais interessante para o capitalismo desarticular as relações humanas e articular as relações de consumo, as quais fortalecem os Estados Liberais e os valores iluministas.

Perguntas: Será que as demanda sócias do século XXI são atendidas pelos modelos econômicos, sociais e políticos do século XVIII? Até quando vamos colocar a nossa capacidade, construtiva, pensativa a serviço do capital desenfreado, sem lógica sustentável, que comprime a nossa razão e a deixa na condição de instrumento útil e lucrativo para grandes conglomerados econômicos? Até quando os valores iluministas vão nortear as relações no mundo ocidental? Será que a nossa constante, e cada vez mais intensa, crise de identidade social dificulta essa ruptura?

Só a inquietude da mente e a ação do corpo poderão resolver as incógnitas que o homem “civilizado” contemporâneo construiu ao longo de sua história.