Nem toda mulher forte está segura
Falar sobre medo não é fácil. Principalmente quando você ocupa espaços de poder, rompe barreiras e é vista como exemplo de força. Mas é preciso dizer: nem toda mulher forte está segura.
Sou mulher. E apesar de todas as conquistas que acumulei, inclusive o marco de ter sido a primeira em muitos lugares, o medo ainda caminha ao meu lado todos os dias. Medos que não surgem da insegurança pessoal, mas de uma sociedade que continua falhando com as mulheres.
Sinto medo quando preciso receber um profissional em casa e minto que “meu marido está chegando”. Sinto medo ao pedir um carro por aplicativo e compartilho minha localização antes mesmo de entrar. Sinto medo quando saio para correr sozinha e o coração acelera ao perceber que estou sendo observada, seguida com os olhos, ou alvo de piadinhas.
Isso não é fragilidade. É sobrevivência. O recente caso em Natal, onde uma mulher foi brutalmente espancada com 60 socos pelo próprio companheiro, escancarou uma ferida antiga: a violência que tentam fazer parecer exceção, mas que está entranhada no cotidiano de todas nós.
Não podemos normalizar o horror.
Não podemos assistir a vídeos como esse com indignação momentânea e, no dia seguinte, continuar calando diante de comentários machistas, relacionamentos abusivos ou piadas sobre feminismo.
A violência contra a mulher não é só física. Ela se manifesta de formas silenciosas e persistentes: psicológica, moral, patrimonial, política. E está em todos os lugares, na casa ao lado, no trabalho, nos aplicativos, nas ruas.
É preciso uma virada de chave. Agora. Punições reais, justiça célere, redes de apoio fortalecidas. Mas também é urgente educar para o respeito, desde cedo. Formar homens que não apenas “não batem em mulher”, mas que entendem limites, consentimento, equidade. Homens que não silenciem diante da violência alheia, mas que se posicionem ativamente.
Essa luta não pode ser só nossa.
Se você é homem e se revoltou com o vídeo de Natal, saiba: sua indignação só faz diferença se virar ação. Combater a violência contra a mulher é responsabilidade de todos.
Minha força não me livra do medo.
Mas minha voz, somada à de tantas outras mulheres, pode, sim, ser o começo de uma mudança.
E que ela venha. Porque nós não queremos mais sobreviver. Queremos viver.
Thallyta Figuerôa
