Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Nazista dominou a primeira fase do conflito sendo praticamente imbatível, invencível, ao sofrer sua primeira grande derrota, em Estalingrado, na URSS, perguntaram ao Primeiro Ministro Inglês, Winston Churchill, se aquele era o começo do fim da Alemanha, ele respondeu que não, que aquele era o fim do começo.
Frequentemente, escutamos na mídia e nas conversas do cotidiano, que a situação política no Brasil está pior, que a corrupção reina, que as eleições são definidas exclusivamente pelo poder econômico, clientelismo e populismo, que estaríamos num poço sem fundo, e que seria de pior a pior.
Discordo profundamente dessas análises, talvez por ser um otimista nato. Quando olhamos a situação social, política e econômica do Brasil nos últimos 150 anos vemos o que o avanço é contínuo, em todas as áreas, às vezes com interrupções nesse curso, e com alguns setores avançando mais rápido do que outros, porém no quadro geral, avançamos.
Há 150 anos se vendiam pessoas como animais, o Brasil era rural e agrícola, o acesso a educação era para poucos, falar de reformas sociais era ser taxado de subversivo. Quando olhamos para trás vemos o quanto mudamos. Infelizmente uma das áreas que menos avançou foi a da política.
Esse atraso da esfera política torna-se evidente, quando observamos o processo político em suas diversas etapas das eleições às gestões, onde as práticas políticas estão cada vez mais dissociadas dos anseios sociais.
Talvez esse descompasso seja fruto das ditaduras que dominaram o século XX no Brasil. No século XX, tivemos pouquíssimos períodos em que a democracia prevaleceu, de 1946 a 1964 e pós 1985 aos dias atuais. Nesses momentos não tivemos liberdade de imprensa, de fiscalização e atrasamos a renovação das classes políticas, estrangulando o surgimento de novas lideranças e afastando a população do processo político, reduzindo o cidadão a mero espectador.
Desses períodos de ditadura geraram várias mazelas que temos de superar, vários vícios, que se instalaram nesses longos momentos de exceção, principalmente algo que Darcy Ribeiro chamou de complexo de Casa Grande e Senzala, que é a percepção de que não adianta reclamar, ou exigir mudanças, pois nada vai mudar. Ele usou esse termo como comparação a relação entre os escravos e os senhores de engenho, onde as queixas dos escravos de nada adiantavam, pois os senhores podiam tudo, eram inatacáveis. Ele colocou que essa relação assimétrica ficou marcada na nossa relação com os nossos dirigentes.
Porém como no raiar de um novo dia vemos uma nova relação surgir entre sociedade e classe política, o problema é que assim como o entre a noite e o dia existe a madrugada. Entre a superação de práticas políticas arcaicas e o novo, vamos ter um período em que esses dois sistemas vão conviver.
Só que o novo vai se consolidando lentamente e o velho vai lentamente desaparecendo, é o fim do começo das práticas políticas coronelistas, o fim de uma era. Essa percepção é bem evidente quanto analisamos a dificuldade de inúmeros prefeitos em postularem a reeleição, da capital ao interior, conta-se a dedo principalmente ao longo da BR 232, gestões que não enfrentam problemas de rejeição. Gestões que teriam sucesso a dez, vinte anos atrás, hoje enfrente forte desgaste por não estarem sabendo lidar com as novas demandas.
Algumas estratégias comuns no passado não funcionam mais tão bem.
Como por exemplo, deixar para o último ano para fazer algo, não dialogar com a sociedade através do orçamento participativo, a ausência de modelos de gestão baseados na eficiência e na apresentação de resultados efetivos e não priorização da qualidade dos serviços de saúde e educação. Isso significa que na próxima eleição teremos um pleito marcado pela análise de projetos e ideias, infelizmente não. Mas também, vai haver cada vez menos espaço para o personalismo, o improviso e o autoritarismo. Durante as campanhas o marketing pode até enganar, todavia durante as gestões esses novos modelos tem que se consolidar ou teremos cada vez políticos sendo jogados ao limbo.
O efeito da nova classe média, antenada e conectada, tem impacto não só na economia, mas também nas eleições e gestões. A sociedade começa a buscar uma relação olho no olho com seus dirigentes. Passamos lentamente de uma política com “p” minúsculo, para a política com “P” maiúsculo, e como na letra de Alceu Valença, podemos dizer que esse momento já vem e que nós escutamos os teus sinais…
*Mário Benning é professor do IFPE