Opinião – Entre tapas e beijos, a relação entre a base e o executivo – por Mário Benning

Mário Flávio - 05.12.2013 às 08:25h

Na última reunião da Câmara Municipal tivemos uma sessão tumultuada, com gritos, trocas de desaforos e agressões mútuas entre situação e oposição. As imagens chocaram a população e provocaram a retirada da pauta de vários projetos polêmicos pelo executivo municipal. De imediato, o governo procurou taxar as práticas da oposição como sabotagem da gestão e reeditou mais uma vez o discurso do comprometimento do futuro da cidade.

Todavia nesse caso temos que dar a César o que é de César, as práticas da oposição em Caruaru são apenas as mesmas ações que as oposições fazem pelo mundo afora, são partes do jogo democrático. Winston Churchill proferiu uma frase de uma lucidez fantástica sobre o funcionamento de regimes democráticos: “A democracia é o piro dos regimes, à exceção de todos os outros.” Porque a construção de um consenso, a negociação, as articulações, são lentas muitas vezes atrapalham ao funcionamento do executivo, porém é desse enfrentamento entre situação e oposição que permite que todos os espectros políticos de uma sociedade estejam representados.

Sendo o legislativo a instância que congrega interesses tão diversos, dar voz aos vencedores e aos vencidos simultaneamente, elaborando leis, ou implementando políticas que atendam a maior parte de uma sociedade. É desse conflito permanente entre situação e oposição, que brota o aperfeiçoamento da gestão e das ações do executivo, confirmando o ditado que a oposição faz bem a vida política de uma comunidade. Porém essa disputa tem uma coreografia própria, na qual a situação exerce a defesa do governo, e se for o caso aplicando o famoso rolo compressor, se não tiver a maioria negociando e engolindo sapos para viabilizar a sua gestão. Já a oposição cabe fiscalizar, apontar as contradições e utilizar-se das manobras regimentais para ser ouvida e atendida em seus pleitos.

Isso fica patente quando vemos o confronto entre democratas e republicanos nos EUA, onde recentemente tivemos a paralisia do Governo Federal pelo impasse na aprovação do orçamento da União e a elevação do teto de endividamento. Nem o Governo conseguiu tudo o que queria e nem a oposição, mais se chegou a um meio termo, que permitiu a superação da crise. Mas resta a perguntar que não quer calar: como a oposição caruaruense de apenas seis vereadores consegue anular o rolo compressor do governo? Ou melhor, por quê o rolo compressor não está funcionando? Querer culpar a oposição local, que cabe num fusca, pelo péssimo relacionamento entre a base e a gestão é querer tirar o foco de uma relação que vem tensionada e cheia de ruídos.

Ninguém previa que mais uma vez o governo Queiroz enfrentaria a deterioração das relações com o legislativo, não depois da crise do mandato anterior, e de ter conseguido, em teoria, montar uma base ampla. O que a oposição vem cobrando é o básico, detalhamento e discussão dos projetos e o envio em tempo hábil. O seu erro vem sendo na forma como a mensagem é passada, de forma histriônica, mas não no seu conteúdo. A incapacidade da gestão em aprovar matérias simples, como a reforma administrativa, sinaliza o quão anda capenga a articulação política do governo. Pois se a bancada da situação estivesse afinada com a gestão, anularia completamente qualquer movimento da oposição no plenário.

Vazam na mídia frequentemente as insatisfações dos vereadores com o tratamento recebido do prefeito e de secretários e diante dessa relação tumultuada, é mais do que normal que pequenas traições ocorrem como forma de retaliar o governo. Não foi a oposição que cresceu, foi à situação que se apequenou, diante da certeza do executivo que tinha alinhavado uma costura firme com os vereadores. Porém diante desse quadro sabemos que será necessário discutir realmente a relação entre o Legislativo e Governo.

Para definitivamente superar essa novela mexicana, cheia de cenas tensas e dramalhões semanalmente, com direito a um fundo musical de gosto duvidoso relembrando os apoios perdidos. Cabendo ao governo entoar para a base: “Você bem que podia perdoar. E só mais uma vez me aceitar. Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la.”

*Mário Benning é analista político