Opinião – Cadê a coragem? – por Diego Cintra*

Mário Flávio - 11.10.2013 às 09:55h

Numa época de falsos moralismos, hipocrisia social e demagogia política parece que falar o que se pensa virou um tabu. Para grande parte da sociedade brasileira atual é preferível ignorar o verdadeiro mundo que nos cerca para se reclusar numa bolha de fantasia e ilusão muitas vezes externadas nas redes sociais por aparências de felicidade, riqueza e amizades irretocáveis (com ajuda do Photoshop, claro).

As relações sociais, em sua maioria, baseiam-se mais pela conveniência do que pela afinidade. Talvez por isso haja uma cautela quase absoluta para discutir questões relevantes para o progresso da sociedade. Afinal, elas necessariamente vão tocar na ferida de alguém.

É triste perceber que essas discussões, apesar do desenvolvimento da sociedade em rede, tendem a, pelo menos no Brasil, se fecharem em torno de seus próprios núcleos partidários e afins. O confronto é evitado a todo custo (a não ser em época de eleição onde os lados se digladiam com todas as armas existentes e, muitas vezes, as mais baixas disponíveis). O que é preciso perceber é que esse cenário é extremamente prejudicial para a verdadeira discussão democrática.

Prejudicial porque, primeiro, concentra no tempo uma atividade que deve ser permanente: a reflexão política. Segundo, porque o confronto, que deveria ser ideológico, se torna partidário, e os argumentos apresentados são antes populistas, imediatistas, demagogos e frágeis do que racionais, coerentes e eficazes.

De solução existe a coragem. Não essa coragem de frases com imagens de personalidades que vemos no facebook, tão vazias e neutras quanto uma campanha publicitária de auto-ajuda. É preciso a coragem de partir para o confronto, sem medo, de aceitar a provocação e combater com ideias. Coragem para colocar os pensamentos na mesa e medir a firmeza de nossas convicções. Porque só assim saberemos realmente quem é o quê e quem realmente somos.

Só assim elegeremos um argumento político com base na racionalidade e numa discussão ideológica verdadeira. Só assim teremos uma medida para cobrar coerência daqueles que têm a nossa outorga para governar e exercer o poder. Para tudo isso, vale lembrar a frase do artista que teve a inspiração em Caruaru: “Aquele que foge da conversa já perdeu por W.O.”