No dia 18 de outubro de 2010, o poeta militante Pedro Tierra leu o poema “Os Filhos da Paixão”, no ato do Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, em apoio à candidatura de Dilma Rousseff. Poema que havia feito em 1994. Nele, os petistas são chamados de filhos da paixão. “Somos a perigosa memória das lutas”, diz um verso do poema.
Estes dias a entrevista de petistas no programa Conteúdo, o evento de uma corrente interna e o Seminário de formação que acontecerá domingo deram mais uma vez evidência ao partido na cidade.
Quando eu decidi pedir desfiliação do PT, fato comunicado na imprensa em 17 de outubro de 2011, eu disse “Saio do PT, onde conquistei grandes amigos e ainda mantenho um profundo respeito e gratidão, para afirmar a possibilidade de outro tipo de atuação política”. Um ano e quatro meses depois permaneço caminhando na mesma direção. Coloquei diversos pontos justificando a decisão, entre eles “um tempo também necessário para reorganizar minha vida e agenda pessoal”. Não deixei de fazer política nenhum dia sequer.
Permaneci dando minha colaboração na campanha no grupo que sempre estive. Participei na campanha vitoriosa do prefeito tanto quanto na honrosa campanha de Jaelcio.
Abriram-se espaços para que eu pudesse compartilhar minha visão e opinião, primeiro a entrevista no programa de Hélio Júnior na Rádio Cultura, depois o convite de Mário Flávio aqui no blog, espaço precioso na minha vida e confirmado pelos muitos retornos que tenho. Depois no Jornal de Caruaru na coluna Cultura e Cidadania, que também possibilitou muitos outros contatos. Continuei meu vínculo com o Movimento dos Trabalhadores Sem Tetos (MTST), nas discussões do Fórum Estadual de Reforma Urbana e na igreja que congrego fui convidado e assumi a direção do Departamento de Ação Social com a missão de fazer a partir deste ano uma igreja conhecida na localidade através de serviço (ações de cidadania).
Em nível nacional continuo pensando que acontecimentos como o Mensalão equiparou a legenda aos demais na busca pelo poder e a se afastar de seus propósitos iniciais.
Antes do Mensalão (2005) os rumos que o partido vinha tomando e tomou desembocou na saída de outros companheiros como Hélio Bicudo, Chico Alencar, Cristovam Buarque, Marina Silva, Plínio de Arruda Sampaio, Cesar Benjamim, Fernando Gabeira, Milton Temer, incluindo os expulsos, como foram em 2003 a senadora Heloísa Helena e os deputados Luciana Genro (filha de Tarso), João Fontes e João Batista Araújo, o Babá. Aqui em Pernambuco saíram Maurício Rands, Paulo Rubem e Chico de Oliveira (Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira), são petistas históricos que saíram, citando os mais reconhecidos.
Como entender o tratamento dado a Delúbio Soares? E José Genoíno assumindo este último mandato após condenação do STF? Até quando caminharemos utilizando os métodos de partidos que criticávamos?
Em Pernambuco tenho dificuldade de compreender as decisões tomadas envolvendo João da Costa.
Em Caruaru discordei da forma como o presidente eleito no último PED se retirou (ou foi retirado) de cena, as acomodações do novo diretório, a contradição de fazer valer o cumprimento do Estatuto para expulsar um filiado e o silêncio em relação ao outro.
Estou sabendo de uma onda moralizadora vindo de onde a Secretária de Articulação da PMC está (Sul), de dentro do próprio PT, o ex-prefeito de Porto Alegre, ex-ministro das Cidades e ex-presidente do partido, Olívio Dutra e o governador, ex-ministro de Lula e amigo de Louíse, Tarso Genro, ambos criticando o partido que ajudaram a fundar por ter abandonado sua original e lendária bandeira da ética. Dutra acha que Lula se cercou de “maus companheiros”, referindo-se à entrega de cargos a torto e a direito sob o pretexto de garantir governabilidade.
A orientação do PT nacional de organizar estes Seminários de Formação é uma iniciativa boa para somar-se a esta onda, pois possibilita uma “peneira” no quantitativo em busca de filiados mais conscientes de seus direitos e deveres enquanto petistas.
Sim, é verdade, “o novo sempre vem”, mas concordando com Pedro Tierra “é necessário voltar os olhos para os passos que cumprimos e detê-los sobre as mãos que teceram os sonhos que nutriram nossa paixão até aqui”, meus votos é que depois dos seminários e do PED que elegerá novos dirigentes o partido seja capaz de unificar a ação dessas distintas correntes e distintas gerações, assim como foi desde a fundação, que venha a ser.
Agradeço o carinho e consideração expressos nos convites vindos de muitas e variadas legendas, incluindo da oposição.
Permaneço observando o cenário. Que a nova geração do PT que está por vir saiba não divorciar-se dos sonhos de Apolônio de Carvalho, Chico Mendes, Dorcelina Folador, Josimo Tavares, Beth Lobo, Florestan Fernandes, Penha, Nativo da Natividade, Augusto Boal, Lélia Abramo, Carlito Maia, Celso Daniel, Adão Pretto, e os nossos queridos Prof. Biu, Eriberto Florêncio e Ribamar Gondim e tantos outros.
Não descarto a possibilidade de voltar, mas por enquanto vou permanecer onde estou.
O POVO NAS RUAS
Na Tunísia, final de 2010, foi acesa a chama da revolução popular contra um ditador corrupto. A revolta foi depois para o Egito, contra um tirano parecido. O mundo árabe balançava e a opinião pública mundial viu lutas ao redor do globo por autonomia, dignidade e um mundo melhor. A direita vem perdendo espaço em Israel, no Equador os avanços do governo do presidente Rafael Correa e de sua Revolução Cidadã. Em muitos lugares vemos jovens corajosos, que protestam contra atos arbitrários dos poderosos — localmente, nacionalmente, internacionalmente.
DEPOIS DOS PROTESTOS…
“Acredito que há um risco, que é o de que as pessoas se indignem, protestem e depois tudo continue na mesma. É preciso que a indignação dê lugar a um comprometimento conjunto”.
(Stéphane Hessel – pensador, escritor e diplomata franco-alemão, autor do popular manifesto “Indignai-vos”, morreu na quarta-feira, 27, aos 95 anos).
*Paulo Nailson é dirigente político com atuação em movimentos sociais, Cursa Serviço Social. Membro da Articulação Agreste do Fórum de Reforma Urbana (FERU-PE) e Articulador Social do MTST. Edita a publicação cristã Presentia. Foi dirigente no PT municipal por mais de 10 anos.