Muitas vezes cansamos de escrever sobre a Câmara Municipal e seus constantes equívocos, foram tantos em poucos mais de seis meses, que chega a ser repetitivo falar sobre o fosso existente entre os vereadores e a população que deveriam representar.
Quando pensamos que finalmente as coisas tinham entrado no prumo, os nossos vereadores agem a Maria Antonieta, rainha francesa que foi decapitada pela Revolução Francesa no final do século XVIII. Uma soberana fútil, insensível ao clamor das ruas e incapaz de notar as mudanças que estavam ocorrendo ao seu redor.
Nesse período, o povo estrangulado pela cobrança de taxas, insatisfeito com as condições sociais e com os privilégios da nobreza, foi protestar contra fome, dizendo que não tinha pão, ao que ela retrucou: “Se não têm pão, que comam brioche”.
Embora haja sérias dúvidas se ela realmente proferiu a frase, a mesma entrou para a história como um exemplo da incompetência de muitos políticos ao não serem capazes de acompanhar o sentimento das ruas, de não se conectarem com os anseios da sociedade e realmente representarem os interesses sociais.
Mas parece que no caso de Caruaru, essa preocupação não existe, pois a Câmara Municipal mais uma vez produz cenas lamentáveis, que a colocam em colisão direta com a população local. Ao defenderem o custeio do seu camarote pelos cofres públicos, com vereadores da situação tendo a coragem de peitar a prefeitura, não numa matéria de interesse coletivo, mas para garantir o buffet para si e seus convidados ao longo de todo o período junino para assim se refastelarem às custas do erário municipal.
Num ano em que ocorre uma das maiores secas da história, que a educação sofreu com os cortes de suas remunerações, com a crise de financiamento da saúde municipal entre outras tantas. Exigir o desvio dos impostos para financiar o lazer dos vereadores é imoral, pois uma das marcas dos gestores deve ser a impessoalidade dos gastos, com os recursos sendo usados em prol da comunidade e não em proveito dos governantes.
Sabemos que o montante gasto com esse mimo aos vereadores não resolverá todos os problemas de Caruaru, mas há a questão do respeito com a população; afinal esses recursos são oriundos das taxas e impostos cobrados do cidadão, tirados do seu bolso. Se os professores devem suportar o corte de suas vantagens pelo bem dos cofres municipais, se a prefeitura recorre a restrição de despesas em função da queda dos repasses, por que a Câmara não pode dar a sua parcela de contribuição?
Afinal se a Câmara quer ser respeitada pela sociedade caruaruense ela deve se converter num espaço de debates em prol de Caruaru e não em proveito próprio, como infelizmente não entendem a maioria dos vereadores.
Seria interessante que os nossos edis aprendessem com Júlio César, imperador romano, a liturgia do cargo, como deve se portar um homem público para valorizar o poder do qual está investido, pois o mesmo ao se pronunciar, fala pelo seus eleitores e não apenas por si mesmo. César pediu o divórcio de sua esposa, Pompéia, já que ela foi acusada de infidelidade pelas massas, embora fosse totalmente inocente. Ao ser contestado por essa contradição ele retruca: “Não basta que a mulher de César seja honrada; é preciso que nem sequer seja suspeitada”. Tal frase tornou-se o lema dos ocupantes dos cargos públicos, sobre como devem agir no exercício de qualquer função política, já que não basta ser honesto, mas também é indispensável evitar polêmicas que maculem ou levantem suspeitas sobre a legitimidade de suas ações.
Regra que a Câmara municipal está fazendo questão de rasgar com declarações equivocadas e a defesa de privilégios que não combinam com o atual momento político da cidade, quando a população caruaruense e a brasileira emitem sinais inequívocos que chegaram ao seu limite com os desmandos dos nossos governantes.
Ainda há tempo para que nossos vereadores tentem reverter mais um desgaste, do contrário ao insistirem em práticas anacrônicas os mesmos correm o risco de terem o mesmo fim de Maria Antonieta e serem extirpados da esfera política local nas próximas eleições. A sorte deles é que não estamos no século XVIII e Caruaru não é a Paris revolucionária, pois teríamos uma guilhotina no Pátio de Eventos e o espetáculo seria bem diferente da ópera bufa encenada pelos nossos representantes.
*Mário Benning é analista político e professor no IFPE