Durante Audiência Pública, superlotação do Dom Moura é criticada e denúncias de mau atendimento serão investigadas

Mário Flávio - 28.06.2013 às 19:55h

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Diversas instituições estiveram representadas na Audiência Pública na quarta-feira, 26, na Câmara de Vereadores de Garanhuns para discutir a situação do Hospital Regional Dom Moura. O encontro começou às 9h da manhã e se estendeu até depois das 15h.

A reunião foi requerida pela vereadora Luzia Cordeiro (Luzia da Saúde). Para ela, o debate é urgente e revelou que Garanhuns precisa de um Hospital de Emergência, assim como uma Casa de Acolhimento. Na verdade, Uma das principais questões levantadas na Audiência foi o fato de Garanhuns sobrecarregar o Hospital Regional Dom Moura, inclusive pelo fato de ser uma das duas únicas cidades que fazem parte da regional que não dispõem de um hospital municipal para o primeiro atendimento.

Representando o hospital, estiveram presentes a Dra. Karla Freitas, gestora da Instituição de Saúde e a Dra. Ricarda Samara, Gestora da V Gerência Regional de Saúde. Ricarda apresentou dados da regional de saúde, inclusive trazendo valores de investimentos do Governo do Estado para a melhoria da saúde na região, como a UPAE – Unidade Pernambucana de Atendimento Especializado, o SAMU e a reforma do Hospital Regional Dom Moura, que custará R$ 6 milhões. Somente a UPAE é um investimento de R$ 26 milhões, o prédio com os equipamentos. A gestora apresentou os números dos atendimentos do HRDM por município, mostrando que num contingente de 600 mil pessoas na região, e Garanhuns com apenas ¼ desta população, ocupa hoje quase 90% dos atendimentos. Em grande parte que não seriam para o hospital, que é de referência regional, ou seja, não deveria estar cuidando do primeiro atendimento.

A Dra. Cláudia Cordeiro, representando a classe médica, relatou a dificuldade de trabalhar nas condições apresentadas pelo hospital. “Muitas vezes é um só médico para mais de 200 pacientes. Os médicos estão deixando o hospital porque não querem ver gente morrer. Preferem trabalhar nos PSF´s” – afirmou a pediatra, que disse ainda que a prefeitura só dispõe de três pediatras, e cada um atende somente 90 crianças por mês. “Aí todo mundo vai para o Dom Moura!”. Entretanto a representante dos médicos foi questionada pelo compromisso dos profissionais, com faltas constantes, saídas do plantão para atender em seus consultórios particulares e até omissão de serviço dentro do hospital. Segundo a Dra. Karla Freitas, diretora do hospital, 14 médicos estão respondendo algum tipo de investigação administrativa e foram notificados ao CREMEPE. Outros profissionais denunciaram que a atual gestora do HRDM tem sofrido boicote de parte dos médicos ao seu trabalho, que tem buscado organizar plantões e exigindo mais dos funcionários do hospital. A Audiência Pública mostrou que o corpo de funcionários apóia o trabalho da atual gestora. Dra. Cláudia afirmou que Garanhuns precisaria mais de uma UPA normal que atendesse emergência que a UPAE, que será inaugurada no próximo mês.

A representante do COSEMS (Conselho dos Secretários de Saúde Municipais) Nilva Mendes, Secretária de Saúde de Lagoa do Ouro, ponderou que o SAMU foi uma grande conquista. “A UPAE é importantíssima, vamos organizar nosso atendimento municipal, economizar com exames e poder oferecer melhores condições aos nossos pacientes antes que eles precisem do hospital. Primeiro a atenção básica, o PSF que encaminha para a UPAE, e aí não precisamos do hospital. É preventivo, é saúde com agilidade”. Segundo Nilva Mendes, os secretários de saúde estão comemorando a chegada da UPAE, que oferecerá atendimento multi-especializado com cirurgias eletivas.

Já o Secretário de Saúde de Garanhuns, Harley Davidson, apresentou dados estatísticos e investimentos para mostrar a inviabilidade da continuação do Hospital Municipal, fechado logo no início da atual gestão do prefeito Izaías Régis, que na prática funcionava como uma casa de parto. “O Hospital tinha um alto custo. Estamos investindo menos e oferecendo mais serviços, com a parceria com o Hospital Infantil Palmira Sales, que é filantrópico”. Quanto ao primeiro atendimento, Harley Davidson afirmou que já está em curso o projeto da UPA 24h, que vai atender urgências e emergências. “Estamos planejando a saúde do município, com o Conselho de Saúde, e tenho certeza que com a UPA 24h vamos desafogar o Hospital Dom Moura”. O secretário afirmou também que já é costume da população passar direto para o hospital sem passar pela atenção básica, pelos PSFs. “Temos hoje no município 52 especialidades médicas, mas que ainda assim não atendem a demanda. Temos limites, mas planejamos o nosso Centro de Parto Normal e a instalação em breve do Complexo Regulador do NASG, para melhorar a marcação das consultas na unidade”, afirmou o gestor.

O Assistente Social Diogo Silva fez uma série de questionamentos e denúncias, dentre elas que médicos deixam de fazer cirurgias no Dom Moura para levar para hospitais particulares, cobrando R$ 6 mil pelo serviço. “Já cheguei a me passar por médico no telefone para conseguir uma senha em outro hospital para encaminhar paciente”. Diante da diretora do Hospital e do representante do Ministério Público, as acusações do profissional ficaram de ser investigadas administrativamente e na esfera judicial.

O Promotor de Justiça, Dr. Alexandre Bezerra, foi um dos últimos a falar: “Precisamos fortalecer os parlamentos, nos incluir neste processo, votar com consciência, pois estamos sempre pagando os preços de nossas escolhas. O HRDM é somente o sintoma desta doença, enquanto discutimos nomes e problemas menores, deixamos de tratar as causas. Precisamos que as pessoas tenham habitação, cultura, educação, lazer… Pois a falta de direitos fundamentais levam à doença. Chegou a hora de ir adiante, trilhar outros caminhos”.

O presidente da Câmara de Vereadores, Audálio Filho, ressaltou a importância do encontro e das instituições buscarem soluções. “O HRDM é um problema regional, de órgãos estaduais, e por isto agradecemos aos seus representantes virem debater nesta esfera”, destacou afirmou Audálio Filho.