Concentração cai, mas 1% mais rico ganha 35 vezes mais do que renda dos mais pobres no Brasil, aponta IBGE

Jorge Brandão - 19.11.2021 às 21:25h

De acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira (19) o índice de Gini, que mede concentração de renda e desigualdade econômica, passou de 0,544, em 2019, para 0,524, em 2020. Essa foi a maior queda da série histórica do indicador. Quanto mais próximo de zero, maior a igualdade de renda entre a população do país.

Houve uma tendência de redução do índice entre 2012 (0,540) e 2015 (0,524), mas em 2016 voltou a crescer (0,537) e atingiu o maior valor da série em 2018 (0,545). Em 2020, o Nordeste manteve o maior índice de Gini entre as regiões (0,526) e o Sul, o menor (0,457). Na comparação com 2019, a desigualdade medida pelo Gini se reduziu em todas as regiões, com destaque para Norte e Nordeste.

“Houve uma piora do mercado de trabalho. Muita gente perdeu ocupação, mas o Auxílio Emergencial segurou quem tinha rendas domiciliares menores. Isso tornou a distribuição de renda do país menos desigual”, afirma a analista da pesquisa, Alessandra Scalioni.

Já a massa de rendimento mensal real domiciliar per capita foi de R$284,6 bilhões em 2020, queda em relação a 2019 (R$295,2 bilhões). Apesar de o Sudeste concentrar 50,7% dessa massa (R$144,4 bilhões), apenas o Norte e o Nordeste tiveram aumento nesse indicador (3,6% e 1,4%, respectivamente) no período. Sul (-5,7%) e Sudeste (-5,2%) tiveram as maiores quedas. Enquanto a parcela dos 10% com os maiores rendimentos concentravam 41,6% da massa, os 10% com menores rendimentos detinham 0,9%. Mas o primeiro grupo perdeu participação entre 2019 e 2020 (-1,2 ponto percentual), enquanto os de menor rendimento variaram positivamente.

Em 2020, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$1.349, o que representa uma queda de 4,3% frente ao estimado no ano anterior, quando foi de R$1.410. As únicas regiões que tiveram aumento nesse valor foram Norte (R$896) e Nordeste (R$891) e, apesar disso, se mantiveram com os menores rendimentos. O maior era do Sudeste (R$1.623), seguido do Sul (R$1.597).

Nos domicílios em que havia moradores beneficiários do Bolsa Família, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$379 em 2020. Para os que recebiam o BPC-LOAS, esse rendimento foi de R$792 e, para aqueles que recebiam outros programas sociais, de R$772. Esse último, que inclui os domicílios que receberam Auxílio Emergencial, cresceu 12,2% na comparação com o ano anterior.

“Só os outros rendimentos tiveram ganho de renda média nesse período. O rendimento médio domiciliar per capita caiu porque as fontes de renda, em si, caíram. Ainda que a renda do trabalho tenha subido, há menos pessoas ganhando esse rendimento, porque houve uma queda na ocupação de 8,1 milhões de pessoas entre 2019 e 2020”, diz Alessandra. Quando observada a estratificação em classes de percentual das pessoas em ordem crescente de rendimento domiciliar per capita em 2020, metade da população com menores rendimentos recebeu R$453, em média, crescimento de 3,9% frente a 2019 (R$436).

“Essa fatia da distribuição de renda teve o rendimento médio aumentado especialmente por causa do Auxílio Emergencial, porque os beneficiários dele estão nessa faixa. Já a outra metade da distribuição, que é a de maiores rendimentos, teve redução”, afirma a analista.

As pessoas que faziam parte do 1% da população com rendimentos mais elevados tinham rendimento domiciliar per capita de R$15.816. Esse valor é 34,9 vezes o rendimento da metade da população com os menores rendimentos (R$453). Em 2019, essa diferença foi a maior da série histórica (40 vezes).