Em 1986, um filme de ficção fez sucesso, Highlander o Guerreiro Imortal. Contava a história de seres imortais e divinos que lutavam uma batalha secular pela supremacia. Atacando-se , em conflitos ferozes até que restasse apenas um. Embora esse filme de ficção já tenha caído no esquecimento, temos uma batalha semelhante ocorrendo aqui em Caruaru. Onde, os Lyras e os Queiroz. disputam a primazia num espectro da política caruaruense e a aniquilação mútua.
Um confronto que já foi passou por várias etapas: da détente a coexistência pacifica e ao compartilhamento do poder, com todas elas fracassando. Porém, sempre evitando a batalha final. Na Europa do século XVII existia uma regra clara para a solução dos conflitos. Se as negociações não surtiam os efeitos desejados, a força resolveria.
Quando a diplomacia falhava, o canhão falava. Ao ponto de um oficial francês afirmar: “Não há juiz mais imparcial do que o canhão. Ele vai diretamente ao ponto e é incorruptível.” Parece que, finalmente, o canhão, ou a urna, irá solucionar de vez o impasse e a disputa surda entre os Queiroz e os Lyras.
A solução de uma situação sui generis que ocorre em Caruaru, a tripartição do poder com: Gel, Lyra e Queiroz. Tony Gel domina confortavelmente, sozinho, um espectro do eleitorado. E os Lyra e Queiroz tendo, que a contragosto, compartilhar a outra fatia. Afinal uma das características da política brasileira, do Império aos dias atuais, é a bipolarização das disputas, principalmente em nível municipal. Geralmente, temos duas grandes forças politicas que se contrabalanceiam, e se confrontam, buscando a hegemonia. E uma série de grupos menores orbitando essas forças dominantes e recebendo espaços no pode. Desde que se mantenham fiéis e cônscios de seus papéis de subordinados.
Ao longo das décadas eles, Lyra e Queiroz, dançaram repetitivamente, exaustivamente, uma mesma coreografia: rompimentos ruidosos e reaproximações silenciosas. Ao ponto de tais situações já fazerem parte do folclore político caruaruense; espera-se e aposta-se quando se darão as rupturas e as subsequentes reaproximações. Porém o contexto agora é outro, e parece que desta vez Queiroz espera resolver de fato este conflito. Utilizando-se das vantagens momentâneas que possui, procura retirar o protagonismo político dos Lyra na cidade, reduzindo-os a condição de força política secundária.
Enquanto João está fora do poder, Queiroz comanda a maior a mais rica cidade do interior. Uma maquina eficiente tanto para atrair apoio quanto gerar votos. Enquanto João está isolado em seu partido, Queiroz comando a sua legenda, o PDT, e a usará para barganhar. Aos fatores que sempre alimentaram essa disputa, se juntaram novos elementos; que alteram a política caruaruense e forçam Queiroz a ação. Tais como: a realização do segundo turno, que estimula os atores secundários a se tornarem hegemônicos. O visível cansaço de partes do eleitorado caruaruense com os grupos tradicionais que se revezam no poder. Cada vez mais, a parcela de eleitores que seguem e votam religiosamente em um grupo vai minguar.
E, principalmente, o fator da sucessão geracional. Queiroz pretendem limpar o terreno para Wolney. Evitando que ele tenha que dividir o palco, o protagonismo, com alguém mais. Algo que ele nunca conseguiu para si. Se fossemos comparar com uma partida de xadrez, poderíamos dizer que Queiroz realizou, até o momento, uma abertura brilhante. Ele vem dominando o centro do tabuleiro em Caruaru, afastando e isolando os Lyra e limitando os seus movimentos.
Aproveitando-se das rusgas internas entre João e a cúpula estadual do PSB, Queiroz procura tomar o discurso e a legenda de Raquel na cidade. Especula-se que num acordo de bastidores, o PDT manteria o apoio a Geraldo Júlio no Recife e poderia entregar a cabeça de chapa ao PSB em Caruaru. Desde que o escolhido não fosse Raquel Lyra, mas sim algum membro do clã dos Gomes.
Nada contra os Gomes, Jorge e Laura, ambos possuem qualificações e tem trajetórias políticas, que os habilitam a disputarem a Prefeitura de Caruaru. Contudo, se realmente essa fosse a primeira escolha de Queiroz, o seu real desejo, ser sucedido ou por Jorge, ou por Laura.
Ele teria dado mais espaço a Jorge em sua gestão ao longos desses oito anos, mais visibilidade. Ou teria, realmente, se empenhado em garantir o mandato de Laura como deputada estadual, e assim enfraquecido o pleito interno de Raquel junto ao PSB.
Ao forçar a saída dos Lyra do PSB, ele retira deles vários estandartes: os de serem os candidatos do Governador Paulo Câmara, o direito de usar Eduardo Campos, a nova política e o mote de um novo modelo de gestão durante a campanha. Todos os mantras que os Lyras vem usando para criticar a sua gestão ao longo de oitos anos, toma-lhes o discurso.
Resta agora aguardar os lances de João e Raquel, como eles sairão da sinuca de bico em que foram jogados e recuperarão o protagonismo na cidade. Parece que, nesse momento, Queiroz está mais preocupado em derrotar os Lyras, do que em vencer as eleições.
Se ele realmente irá entregar a cabeça de chapa ao PSB, ou posteriormente tentará reorganizar a chapa com o PDT na cabeça, não sabemos. A única hipótese que podemos elaborar, imaginar, é que Queiroz deve estar repetindo sozinho , em seu gabinete, a frase do protagonista do filme Highlander: “ Só pode haver um”!
*Mário Benning é Mestre em Geografia e Professor do IFPE-Caruaru.