Vivemos um momento muito interessante na vida política, as redes sociais e as pesquisas de opinião permitem às lideranças políticas conhecerem, como em nenhum momento anterior da história, os impactos de suas ações e aprovação de suas decisões.
As avaliações pela população em todos os níveis de governo são o termômetro para medir a eficiência de uma gestão pública. E as oscilações desses índices norteiam tanto os programas de governos como até as ações dos adversários. Vide nesse momento as articulações da oposição em nível nacional: se Dilma estiver bem avaliada, poucos candidatos partirão para a disputa, inclusive Aécio Neves que já cogita uma nova candidatura ao governo de Minas Gerais; se ela estiver mal, haverá uma enxurrada de candidatos.
Mas, esse instrumento fantástico também se torna uma camisa de força que engessa as administrações públicas, pela obsessão dos gestores em serem bem avaliados. Que passam a agir como algodão entre os cristais, evitando qualquer atrito com a chamada opinião pública que resvale nos seus índices de aprovação.
Deixamos de ter líderes e passamos a ter políticos, que agem como animadores de torcidas carentes dos aplausos. Nesse caso várias demandas sociais urgentes, e que vão ter que desagradar alguns setores sociais, são adiadas pelo medo da queda nos índices de aprovação.
Essa diferença é marcante, se a compararmos com o passado. Se essa fixação existisse no passado teria ocorrido a campanha obrigatória de vacinação pública? Que de tão impopular gerou a Revolta da Vacina, mas que como resultado erradicou a febre amarela do Rio de Janeiro e elevou o nome de Osvaldo Cruz a categoria de herói nacional.
Se a pressão das pesquisas existisse, noutro momento teria Winston Churchill resistido ao avanço nazista na Segunda Guerra e liderado a resistência na Europa?
Nos EUA, a gestão de Obama paga o preço dessa ditadura da aprovação, onde o mesmo tentou agradar a todos os setores sociais e acabou nem conquistando os opositores e perdendo o apoio do seu eleitorado com sua gestão amorfa e sem brilho.
Essa tutela das pesquisas desvirtua o papel do Estado, que e é ordenar a vida social, regulamentar as diversas instâncias para que com essas ações se atinjam o crescimento econômico e o desenvolvimento social. E nesse cenário atritos e conflitos sociais terão que acontecer, pois é impossível agradar todo mundo todo tempo. O que pode dirimir a oposição a algumas ações é o amplo debate em torno desses temas cruciais, afinal a democracia é o governo da maioria e não da unanimidade, o que implica dizer que vai ter uma minoria que foi vencida, e que cabe a ela aceitar a decisão majoritária ou converter-se em maioria.
É por essa ausência do contraditório, que hoje, temos tantos candidatos parecidos – que dizem, fazem e vestem o que os marqueteiros e suas pesquisas apontam para conquistar votos. Hoje em Caruaru, vemos os principais candidatos fugindo dos temas mais urgentes da cidade, como a feira, a saúde e o combate as desigualdades sociais. Promessas são feitas de maneira superficiais e insossas, que se encaixam em todos os gostos e em todos os grupos sociais. Muitas vezes sem sabermos se o orçamento comporta o que está sendo prometido.
E por isso precisamos de líderes que tomem as decisões necessárias, mesmo que sejam impopulares num primeiro momento, que tragam o debate para o centro da política local, que tenhamos menos propaganda e mais conteúdo. Ou seja, precisamos de um prefeito que além de ser um político também encarne o papel de liderar Caruaru rumo à cidade que todos nós aspiramos.
*Mário Benning é professor do IFPE e analista político